Em uma atitude dita corajosa, a Angelina Jolie revelou que fez uma dupla mastectomia para prevenir o câncer de mama. Ela teria um gene defeituoso, o BRCA1, que aumentaria suas chances de ter câncer de mama em 87%, especialmente considerando que a mãe também desenvolveu a doença.
A coincidência (sic) é que esse gene BRCA1 está no centro de uma disputa milionária de patente. Uma empresa chamada Myriad Genetics possui a patente do gene BRCA1 e do BRCA2, o que dá a ela o monopólio dos testes do gene. Só que grupos de combate ao câncer foram à Suprema Corte americana dizendo que não se pode ter a patente sobre um produto da natureza. A invalidação da patente possibilitaria a outros cientistas tornar o teste mais barato e acessível. Com a patente, ao contrário, a Myriad está inviabilizando o teste em larga escala e impedindo mais mulheres de saber que têm maiores riscos de desenvolver câncer – você acha que eles estão preocupados com as pessoas ou com o lucro?
Em abril, a Suprema Corte deu sinais de que não acredita que a Myriad deveria possuir a patente dos genes. Agora, em maio, a Angelina Jolie vem a público encorajar outras mulheres a fazerem o teste do BRCA1. Seria mesmo coincidência ou uma corrida para lucrar enquanto é tempo?
Para responder a essa pergunta, acho fundamental dar uma analisada no papel que a Angelina Jolie vem desempenhando como Embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado nas Nações Unidas. Jolie é conhecida por seu grande trabalho com refugiados, com a propagação de causas humanitárias, e isso ninguém questiona. Aliás, quem ousa questionar uma mulher que já adotou três crianças carentes e doou milhares de dólares a famílias de refugiados?
Mas existe um outro lado da moeda. Jolie vem defendendo intervenções sangrentas com a desculpa de causa humanitária. Ela promoveu a guerra na Líbia como sendo uma causa humanitária e com isso conseguiu apoio da opinião pública para a invasão. Essa causa humanitária deixou estimados 100 mil civis mortos pela OTAN e, no entanto, é isso que ela promove. Kadafi era um ditador, sim, e não podia se sustentar daquela forma. Mas isso não justifica uma intervenção sangrenta indesejada, que deixou mais estragos do que benfeitorias. Procurem saber como está a Líbia hoje.
Recentemente, Jolie dirigiu um filme chamado “Na Terra de Sangue e Mel”, uma propaganda pró-guerra feita para justificar a intervenção brutal da OTAN na Bósnia nos anos 1990. Esse filme foi muito criticado pelas mulheres violentadas da Bósnia. Conforme declararam as mulheres da Associação das Mulheres Vítimas de Guerra da Bósnia, “Nós insistimos para encontrar Angelina Jolie, já que não queríamos ser apresentadas de forma errada ao mundo. Nossas vozes são merecedoras e deveríamos ter recebido muito mais respeito. Angelina cometeu um grande erro. Nós sentimos que ela não agiu como uma embaixadora verdadeira e acreditamos que ela não tem mais credibilidade para continuar no cargo”.
Jolie ainda apoiou a campanha contra o Kony, lembram? Que virou pó depois que ninguém conseguiu sustentar uma campanha contra um homem que nunca mais foi visto, mas que controla uma área sobre 7.000.000 de barris de petróleo e outros minerais, e depois que seu diretor foi visto correndo nú pela rua – mas que mesmo assim lucrou 20 milhões de dólares com doações.
Agora, Jolie defende a mesma intervenção na Síria, dizendo “Acho que a Síria chegou a um ponto, infelizmente, em que alguma forma de intervenção é absolutamente necessária” e criticando Rússia e China por sua recusa em intervir. E ela diz isso abraçada a crianças refugiadas, como se fosse impossível à massa discordar dela. Talvez ela devesse dizer isso abraçada às famílias que perderam suas crianças em outras intervenções da OTAN. Será que seria unanimidade? De qualquer forma, espero que sua atitude não influencie as tomadas de decisões a fim de colocar a perder todo o trabalho de conscientização sobre essas intragáveis guerras com fins pacíficos, que só trazem destruição e matam milhões de civis com o pretexto de promover a paz mas que, no entanto, só visam o interesse hegemônico de certos países e o controle sobre os recursos do dito terceiro mundo.
Acho que, depois disso, fica mais fácil dar uma opinião sobre a real motivação por trás das ações da Angelina Jolie. Acredito que ela fez a cirurgia sim para se prevenir e encorajar outras mulheres a se prevenirem também, o que é mesmo importante. Mas acho que ela é um fantoche com consentimento, usada para promover a manipulação e a desinformação. Angelina, por que você não usa toda sua influência e poder não apenas para encorajar os testes sobre o gene, mas para pressionar a indústria farmacêutica que hoje não tem interesse nenhum na descoberta da cura do câncer, com medo de perder seus lucros a longo prazo? Por que, em vez de promover a guerra pela paz você não promove os acordos de paz como fazem Rússia e China, e a luta contra as intervenções sangrentas da ONU? Acho que é mais por aí.